Quiz Ambiental - Qualidade das águas

Os verdadeiros custos do Gerenciamento e Preservação dos Mananciais

MUDANÇAS CLIMÁTICASGESTÃO DA ÁGUANOTÍCIASGESTÃO DE RESÍDUOSENERGIAS RENOVÁVEISSOCIO AMBIENTALLICENCIAMENTO AMBIENTALCONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS

@AGF_Ambiental

10/27/20258 min read

💚 QUIZ AMBIENTAL | Que imagem é essa?

À primeira vista, pode parecer uma paisagem paradisíaca vista do espaço…
O que você acha que está na imagem?

A) Uma praia paradisíaca em Maragogi 🏝️
B) Uma salina cristalina no litoral nordestino 🧂
C) Uma lagoa nos Lençóis Maranhenses 🌊
D) Uma aurora boreal refletida sobre o mar ✨
E) Água para abastecimento humano eutrofizada, infestada por cianobactérias


Se você marcou a alternativa E, infelizmente estava certo. Pode até parecer um cenário paradisíaco, mas é na verdade... é um florescimento de cianobactérias!

  • 🧪 Também conhecidas como algas azuis e ou verdes, essas bactérias microscópicas se multiplicam rapidamente quando há excesso de nutrientes (fertilizantes, esgoto, resíduos industriais).

  • 💧 O resultado é a eutrofização das águas — queda de oxigênio, morte de peixes e liberação de toxinas perigosas, como as cianotoxinas.

Entre os principais riscos das cianotoxinas para a saúde humana, estão:

Danos ao fígado: Algumas cianotoxinas, como as microcistinas, são hepatotóxicas e podem causar lesões hepáticas irreversíveis.

Problemas neurológicos: As neurotoxinas, como as saxitoxinas, interferem na transmissão dos impulsos nervosos, podendo levar a paralisias temporárias ou permanentes.

Complicações respiratórias: A exposição a certas cianotoxinas pode comprometer o sistema respiratório, sendo particularmente perigosa para pessoas com problemas respiratórios preexistentes.

Distúrbios gastrointestinais: A ingestão de água contaminada pode causar sintomas como náuseas, vômitos e diarreia.


🌞 As imagens de satélite ajudam a monitorar essas ocorrências, que se tornam cada vez mais frequentes com o aquecimento global, escassez de recursos hídricos, o mau gerenciamento de efluentes e a urbanização especialmente em torno de mananciais.

Essa imagem aérea mostra o padrão esverdeado e turvo típico da proliferação de cianobactérias, geralmente em águas paradas ou costeiras com excesso de nutrientes (como nitrogênio e fósforo).

Elas formam essas “nuvens verdes” visíveis até do espaço — um fenômeno ecológico e sanitário de grande preocupação. Esta é a imagem da Represa de Guarapiranga, que abastece mais de 4,9 milhões de pessoas na Região Metropolitana de São Paulo, principalmente nas zonas Sul e Sudoeste.

O sistema Guarapiranga atende principalmente as zonas Sul e Sudoeste de São Paulo, incluindo bairros e parte de municípios vizinhos, como:

  • Santo Amaro

  • Morumbi

  • Pinheiros

  • Butantã

  • M'Boi Mirim

  • Parelheiros

  • Capela do Socorro

  • Embu

  • Cotia

  • Embu-Guaçu

  • Itapecerica da Serra

  • Juquitiba

  • São Lourenço da Serra

📢 Pense nisso. Conceito básico, mas sempre importante relembrar, água é um recurso renovável — mas não infinito. Sendo assim, a gestão integrada e preventiva é sempre mais barata (e sustentável) que o tratamento reativo (também conhecido como "end of pipe" -sistemas de controle de poluição que tratam o efluente ou a emissão de um processo produtivo após sua geração, em vez de eliminar o poluente na fonte). E porque, isso é importante?

1) Os custo do tratamento de água aumentam durante blooms de cianobactérias

Estudos de casos em ETAs brasileiras mostram aumentos expressivos nos insumos e custos operacionais durante florações de cianobactécias, conhecidos também como boom. Um estudo do reservatório Alagados (Ponta Grossa-PR) reportou aumento de consumo de carvão ativado (CAP/PAC) em ~1.889% e aumento total de insumos (coagulante + polímero + carvão) e custos operacionais em ~58% durante o evento.

Revisões internacionais e estudos econômicos apontam que o impacto varia muito com o tipo de flora (toxigênica ou não), densidade celular, tecnologia da ETA - Estação de Tratamento de Esgoto e medidas adotadas (dosagem extra de PAC, ozonização, filtração avançada, descarte de lodo, monitoramento contínuo). Relatos de cidades nos EUA mostram custos diretos a dezenas/centenas de milhares de USD em episódios localizados, e modelos recentes projetam aumentos operacionais significativos com a intensificação de blooms sob mudança climática.

Trabalhos brasileiros indicam aumentos de custo operacional típicos entre 20% e 60% em episódios severos (caso a ETA responda com CAP - Carvão Ativado em Pó + mudanças operacionais); picos localizados podem ser muito maiores dependendo da necessidade de tecnologias especiais.

2) Proteção de mananciais — ainda é prioridade? (situação atual / evidências)

Em termos normativos e de planejamento, a Proteção de Mananciais é uma prioridade prevista (Planos de Recursos Hídricos; instrumentos da ANA) e existem indicadores para estado trófico e qualidade nas plataformas da ANA. Contudo, na prática, a priorização financeira e a implementação de medidas de proteção (zona de proteção, recuperação de APP, controle de lançamento de efluentes) ainda sofrem fragilidades estruturais e de governança em muitas bacias brasileiras.

De acordo com o Plano de Bacias do Alto Tietê (2020), a degradação dos recursos hídricos é proveniente  principalmente da alta urbanização, com saneamento e controle de poluição deficientes, o que acarreta em elevadas cargas de efluentes domésticos, industriais e de fontes difusas nos corpos hídricos receptores.

Relatórios e análises (OCDE, estudos nacionais) mostram que o desafios de governança e de integração entre políticas (saneamento, agricultura, licenciamento e uso do solo) impedem que a proteção de mananciais seja feita de maneira efetiva e homogênea no país.

3) A Universalização do Saneamento resolve o problema da eutrofização?

  • Não, sozinha a universalização não é suficiente. A universalização do saneamento reduz substancialmente as cargas pontuais de nutrientes (esgotos domésticos), mas parte da eutrofização é causada ainda por carga difusas (como por exemplo, fertilizantes, manejo inadequado de solos, efluentes industriais e agropecuários). Para reduzir florações persistentes é preciso combinar saneamento + práticas agrícolas sustentáveis + proteção e recuperação de áreas prioritárias + gestão integrada de bacias.

  • Políticas de saneamento que considerem apenas a expansão de redes sem integração com o controle de fontes difusas, podem reduzir doenças, mas não eliminam o risco de blooms e contaminação de mananciais.

4) Secas, volume morto e transposição — consequências para a eutrofização e gestão hídrica

Eventos de seca reduzem volumes úteis dos reservatórios (aproximação ao “volume morto”), concentrando nutrientes e criando condições estáveis e rasas que favorecem florações. Estudos da crise hídrica brasileira mostram que secas severas (ex.: episódios entre 2012–2020 em bacias importantes) aumentam a vulnerabilidade à eutrofização e reduzem opções operacionais das ETAs.

Soluções de curto prazo (transposição/interligações entre bacias) aliviam escassez, mas frequentemente apenas transferem os riscos (qualidade da água, impactos sociais/ambientais e disponibilidade entre as bacias doadora e receptora) quando não são efetivamente avaliadas e atacam as causas, não a origem dos problemas — que são mais relacionadas ao uso do solo e à carga difusa de nutrientes nas bacias.

5) O que isso significa para custos municipais/operadoras e para a sociedade? (resumo prático)

  • Impacto direto em tarifa/OPS: aumentos de custos operacionais por blooms (bioindicadores de aumento de carga orgânica nos corpos hídricos) traduzem-se em maiores custos de tratamento (insumos, horas extras, tratamento avançado), maior geração de lodos perigosos e demanda de monitoramento contínuo — custo que recai sobre operadores ou consumidores se não houver política de subsídios/transferências. Estudos de caso apontam para saltos percentuais consideráveis nos custos operacionais durante eventos.

  • Impacto indireto: perda de turismo, restrições à pesca, custos de saúde pública (exposição a cianotoxinas), e necessidade de investimento em soluções de médio-longo prazo (restauração de nascentes, estações de tratamento com tecnologia avançada, adutoras buscando água em locais cada vez mais distantes)

O que pode ser feito?

  • Estimativa local de custo: recentemente temos visto publicações, onde fala-se da utilização das águas provenientes dos sistemas de Tratamento de Esgoto (ETE), para incremento da oferta do abastecimento público.

    Qual é a novidade? Já é prática comum que os reservatórios de água sejam inundados com águas de esgoto sem nenhum tratamento, e esta mesma água após tratamento nas ETA Estação de Tratamento de Água são encaminhadas para as nossas torneiras, então o que muda efetivamente na prática?

Falta a incorporação e maior transparência de dados ambientais relacionados aos custos reais da água:

  • De onde vem efetivamente a água que consumimos?

  • Quanto a bacia hidrográfica ou o sistema de abastecimento é auto suficiente na produção de água?

  • Quanto se consome de água em cada setor (industrial x residencial x agricultura)?

  • Como são mensurados e gerenciados os diferentes custos da disponibilidade hídrica, os diferentes custos operacionais e/ ou subsídios cruzados entre regiões?

  1. Monitoramento integrado: combinar vigilância in situ (à partir de amostras) + monitoramento remoto por satélite (detecção precoce de blooms) para monitoramento constante, alertas rápidos e ajustes operacionais preventivos.

  2. Proteção de mananciais: priorizar recuperação de APP, controle de fontes pontuais e difusas, fortalecimento de mecanismos de pagamento por serviços e compensações ambientais para empreendimentos que adotem boas práticas, como captação de água de chuva, estratégias de reuso e tratamento de efluentes de forma efetiva.

  3. Política integrada: articular saneamento (universalização) com políticas agrícolas, de uso do solo, da água, de urbanização — sem integração, terá sempre um efeito limitado. Caso não haja esta visão integrada da água, estaremos sempre enxugando gelo e não atacando as causas fundamentais do Gerenciamento dos Recursos Hídricos

🌍 Estratégias de Resiliência

Os blooms de cianobactérias são apenas o sintoma visível de um problema estrutural: o desequilíbrio entre o uso do solo, o manejo dos nutrientes e a governança da água.

Reduzir esse risco exige estratégias integradas — técnicas, políticas e sociais — que atuem em diferentes escalas do território e do tempo:

Prevenção: proteção de mananciais, recomposição de APPs, manejo agrícola sustentável e controle de cargas difusas antes que atinjam os corpos d’água.

Prevenção e Monitoramento: uso combinado de sensoriamento remoto, vigilância laboratorial e indicadores tróficos para antecipar e mitigar eventos críticos.

Resposta Operacional: planos emergenciais nas ETAs, gestão de lodos, uso racional de carvão ativado e soluções de tratamento avançado.

Planejamento Estratégico : articulação entre saneamento, recursos hídricos, agricultura e licenciamento ambiental — para que a universalização seja acompanhada de qualidade hídrica real.

Educação e comunicação: engajamento social sobre consumo, esgoto, fertilizantes e conservação das águas — o elo mais esquecido na cadeia da sustentabilidade.

📚 Fontes e Referências

  1. Estudo de caso (Alagados / Ponta Grossa): aumento de CAP 1.889% e custo total +58%.

    Revisões sobre efeitos econômicos e tratamento de blooms; estimativas operacionais e necessidade de PAC/ carvão ativado.

  2. Revisões científicas sobre aumento de blooms por mudanças climáticas e degradação de bacias.

  3. ANA — indicadores de estado trófico e Planos de Recursos Hídricos (priorização de mananciais).

    ana.gov.br

  4. Estudos sobre carga difusa (agricultura) e necessidade de combinar saneamento com controle de fontes não pontuais (OECD, MDPI).

    OECD

  5. EPA — orientações sobre microcistinas e riscos à saúde.  Agência de Proteção Ambiental

  6. Imagens - Google Maps

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